sexta-feira, 5 de março de 2010

Influência do Latim na Formação da Lingua Portuguesa

Desde que, há pouco mais de um século, os eruditos obtiveram a última certeza de que as hoje chamadas línguas românicas se entroncam no latim falado nos últimos períodos do Império Romano. Era um vocabulário literário mais apurado e conservador em relação às formas vivas, progressivas, da língua. Por outro lado, resultante da homogeneidade da própria civilização romana, o léxico «popular» não deixava de apresentar certas particularidades geograficamente condicionadas e circunscritas. De certo modo a história do vocabulário português começa, pois, com a romanização das regiões que foram o berço do Idioma.
O português desenvolveu-se na parte ocidental da Península Ibérica a partir do latim falado trazido pelos soldados romanos desde o século III a.C.. A língua começou a diferenciar-se das outras línguas românicas depois da queda do Império Romano e das invasões bárbaras no século V d.C.. Começou a ser usada em documentos escritos cerca do século IX DC, e no século XV DC já se tinha tornado uma língua com uma rica literatura. Os soldados romanos trouxeram com eles uma versão popular do Latim, o Latim Vulgar, do qual se acredita que descendem todas as línguas latinas e que contribuiu com cerca de 90% do léxico do português.
Entre 409 DC e 711 DC, enquanto o Império Romano entrava em colapso, a Península Ibérica foi invadida por povos de origem germânica, conhecidos pelos romanos como bárbaros. Estes bárbaros absorveram rapidamente a cultura e língua romanas da península. Como cada tribo bárbara falava o latim de maneira diferente, a uniformidade da península terminou, levando à formação de línguas bem diferentes (galaico-português ou português medieval, espanhol e catalão). Desde 711 DC, com a invasão da península pelos mouros, o árabe foi adaptado como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar latim vulgar.
Na época romana existiam duas províncias diferentes nos territórios em que se formou a língua portuguesa, a antiga província romana da Lusitânia e a província da Galécia, a norte. A língua portuguesa desenvolveu-se principalmente no norte de Portugal e na Galiza, nos condados lucense, asturicense e bracarense da província romana da Galécia coincidentes com o território político do Reino Suevo, e só posteriormente, com a Reconquista foi avançando pelo que actualmente é o centro - sul de Portugal. Porém, a configuração actual da língua foi largamente influenciada por dialectos moçárabes falados no sul, na Lusitânia. Durante muito tempo, o dialecto latino dessa província romana e depois do Reino Suevo desenvolveu-se apenas como uma língua falada, ficando o latim reservado para a língua escrita.
. Elementos pré-latinos - Sabido é que o latim triunfou das línguas autóctones graças ao seu prestígio como instrumento de uma civilização e de uma concepção política superiores. Obra de poucas gerações, a assimilação linguística foi certamente mais lenta em certas regiões periféricas da Península, de acesso mais difícil e daí mais tardiamente colonizadas que as outras.

Fundo latino - O latim, que, tendo atingido uma feição relativamente homogénea e nivelada, se tornou a língua comum das províncias romanas, assimilara, ainda anteriormente à sua expansão fora da Itália, numerosos elementos, estranhos: «mediterrâneos», etruscos e, principalmente, gregos. Mais tarde admitiu também alguns termos gerais e técnicos, próprios de povos submetidos ao domínio romano: celtas, «ibéricos», germânicos e outros. Quer isto dizer que, na altura em que o latim se fragmentou, dando origem aos dialectos românicos, o seu léxico era constituído por um conjunto de palavras em que o elemento genuinamente itálico-latino só representava uma parte, embora a mais importante.
. Como sucede com todas as línguas de civilização, o vocabulário do latim apresentava, segundo já se observou, dois aspectos, sociologicamente condicionados: um, conservador-literário; outro progressivo-popular. Foi este último que, depois da ruína da civilização antiga, se tornou decisivo na elaboração do léxico românico, ao passo que muitos termos «nobres», de tradição escolar-literária (como OS, ORIS, que cedeu o lugar a BUCCA, e ENSIS, substituído pelo grecismo SPATHA), se obliteraram para sempre.
. Em confronto com os demais léxicos românicos, o do português apresenta, como era de esperar, um flagrante paralelismo com o do castelhano, o que não exclui divergências importantes.

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