domingo, 9 de maio de 2010

Iluminuras - Ana Filipa Vieira nº2 10ºE

Iluminuras

A pintura sobre livros sagrados era uma arte fortemente enraizada na Europa , no séc XI.
Os seus princípios remontam à arte paleocristã .Desenvolveus-se no início da Idade Média ligada à tradição monástica, pois era nos scriptoria das catedrais ou dos mosteiros e conventos que se copiavam os livros manuscritos – Bíblias, manuais litúrgicos, Vidas de Santos, Apocalipses, crónicas históricas, tratados filosóficos, etc., produtos raros e preciosos, destinados a uma pequena clientela de eruditos, os únicos que, nesta época de barbárie e obscurantismo, os sabiam apreciar.

Os monges encarregados deste trabalho de cópia dos textos dividiam-se em grupos. Uns estavam encarregados de escrever os códices (pendolistas) e outros, de iluminá-los (miniaturistas). Crê-se que muitos deles se terão ocupado exclusivamente com as iluminuras, tornando-se numa espécie de especialistas.
Os títulos e os vários tipos de letras eram enfeitados ao extremo. A ornamentação da escrita era variada: podia ser antropomórfica (figuras humanas), inspirada em figuras zoomórficas (com motivos de animais), ou podia contar com adornos baseados na tradição dos entrelaçados irlandeses.
Estas pinturas ora ocupavam páginas inteiras com cenas narrativas ou descritivas retiradas dos textos que os livros continham (como nos Saltérios), ora se reduziam à decoração das letras iniciais dos capítulos ou parágrafos, denominadas de iniciais ornadas ou capitulares. As técnicas empregues denotam enorme destreza de execução e de capacidade de síntese, a par de uma extraordinária imaginação, traduzida na variedade de temas e de modelos iconográficos representados, na fantasia dos coloridos e no sentido de ritmo e movimento das suas composições.
Por tudo isto, as pinturas dos livros aparecem-nos como mais diversificadas, originais e criativas que as dos frescos, que obedeceram a programas temáticos e a concepções plásticas mais uniformes e internacionais. A minuciosidade requerida para a elaboração dos manuscritos foi fruto da preferência do cristianismo pela adopção de letras distantes das empregadas na Roma Antiga (como a versal clássica), pois esta escrita era considerada pagã. Então, os mosteiros privilegiaram a uncial. Nesses tempos, a caligrafia estilizada dos documentos oficiais merovíngios, caracterizada pelo prolongamento das letras acima e abaixo, serviu de modelo para os manuscritos dos mosteiros.
Os textos antigos também foram deformados porque eram grafados em diferentes tipos de escrita, sendo as principais: a capital, da época romana; a uncial; e as escritas nationales, como a lombárdica, a merovíngia e a visigótica. As influências merovíngia e anglosaxônica resultaram no advento da minúscula, cuja variante irlandesa, com suas características formas angulosas, foi levada à Inglaterra e ao continente pelos frades missionários. Porém, nos séculos VIII e IX, a escrita angulosa foi substituída pela minúscula carolíngia (nome derivativo do imperador Carlos Magno), caracterizada pela clareza de suas formas simples.
À medida que os manuscritos se multiplicavam, crescia a necessidade de tornar a escrita uniformizada, a fim de torná-la inteligível; e a minúscula carolíngia personificava a melhor opção para atingir este objetivo. A letra gótica, completamente distinta do modelo carolíngio, teve origem por volta do século XI, na Bélgica e no norte da França.
Daí que, em muitos casos, tenha sido a pintura dos livros a servir de fonte de inspiração plástica e temática para os pintores murais.

Este facto explica-se pelas diferenças existentes entre frescos e as iluminuras quanto ao modo de produção e ao público que se propunham alcançar. Enquanto os primeiros eram elaborados por artistas itinerantes e se destinavam ao povo simples que não sabia ler e mal percebia a doutrina exposta pelos padres, as iluminuras eram realizadas por monges que se especializavam nessa arte, em locais estáveis como os conventos (o que proporcionava a continuidade nas oficinas e o amadurecimento das técnicas), dirigindo-se a um público mais exigente e culto que sabia ler e entendia as simbologias.

No período românico, distinguem-se várias oficinas de iluminuras, sendo as mais importantes:

. as alemãs, que continuaram a tradição do classicismo carolíngio, produzindo composiçoes simples e equilibradas, sobre fundos neutros. Salientam-se os manuscritos iluminados pelos monges de Richenau;

.as inglesas, que absorveram a rica herança dos iluministas irlandeses e anglo-saxões e apresentam um estilo mais vivo, com formas naturalistas e sentido burlesco. Destacam-se as oficinas das catedrais de Canterbury e de Winchester, cuja Biblia iluminada se tornou famosa;

.as italianas, continuadoras da tradição pictórica bizantina. Nelas, sobressai o Exultet da Catedral de Bari, extenso rolo desdobrável com oraçoes e cânticos ricamente iluminados;

.e as da Espanha moçárabe , de influência árabe, que se celebrizaram pelo intenso e forte colorido. Exemplos significativos são os Apocalipses de Beatus e de São Severo, ambos do século XI.

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